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04/01/2023

Economistas fazem projeções e possíveis impactos para 2023

Ao longo dos anos tem sido muito comum uma visão mais cética com relação à capacidade de projetar o comportamento futuro da economia, mesmo para períodos curtos. Basta olhar o histórico das projeções que são feitas normalmente ao final de cada ano para constatar a baixa assertividade das previsões do ano subsequente. Por outro lado, a experiência mostra que tendências de longo prazo são razoavelmente estáveis e podem ser muito úteis no processo de análise de investimentos que adotamos.

“A atividade econômica em 2023 deve sofrer uma desaceleração, informação confirmada nas previsões do FMI e do Banco Mundial. A desaceleração vem por conta dos aumentos de juros em economias desenvolvidas, como a dos EUA e da Zona do Euro, para combater a inflação que os atinge. Essa desaceleração acaba impactando o Brasil pelo nosso lado exportador de commodities e gerando uma desaceleração interna”, afirma Ecio Costa, Economista-Chefe do LIDE Pernambuco e Professor Titular de Economia na UFPE. Ecio ainda lembra que o Brasil também passa por esse processo, com o Banco Central tendo agido mais cedo na elevação de juros, que derrubou a inflação brasileira. A inflação em queda, com juros nominais altos, acaba trazendo juros reais muito altos que impactam na renda variável e os investimentos em negócios se tornando menos viáveis, também desacelerando a economia.

“Além disso, há um fator novo, mais recente: o Governo Federal eleito vem sinalizando com medidas de aumento de gastos que devem resultar em taxas de juros altas por mais tempo, na contramão das expectativas de redução da SELIC para 2023, que acabam por frear o crescimento da economia. Seria interessante, na realidade, promover reformas que diminuam os gastos públicos e o tamanho do estado. Apesar de não se falar em Reforma Administrativa, existe uma sinalização positiva com a possibilidade da Reforma Tributária”, lembra o economista que tem uma visão positiva em relação ao desenvolvimento do Estado com a mudança do governo estadual, que não deve ser oposição ao governo federal, e esse ambiente favorece ao desenvolvimento de Pernambuco. “Agora temos que aguardar a equipe que irá conduzir o Estado no desenvolvimento das suas ações. Inclusive o Comitê de Competitividade do LIDE tem um papel importante na elaboração de sugestões de melhorias de ações para fazer o desenvolvimento acontecer”, conclui.

Segundo Luiz Fernando Araujo, sócio da Finacap, empresa associada ao LIDE Pernambuco, é possível ver que o ciclo de estagnação nos mercados de ativos de risco para os países emergentes, algo já observado nos últimos 10 anos, está revertendo com um provável ajuste nos fluxos de investimentos globais. “A performance dos índices de ações e de renda fixa dos mercados desenvolvidos indicam esgotamento do padrão de forte crescimento da última década e a necessidade de elevar as taxas de juros para combater a inflação nestes países terão efeitos econômicos importantes nos próximos anos”, explica Luiz.

De acordo com ele, o Brasil, neste ponto, está na frente da curva. “Nosso Banco Central se antecipou com forte apreciação na taxa de juros no início do 2022 e já trouxe a inflação para patamares abaixo daqueles observados nos EUA e Europa. Assim, é possível que uma queda nas taxas de juros em 2023 tenha impacto importante nas expectativas e consequentemente na valorização de classes de ativos de renda variável e títulos de renda fixa pré-fixada”, ressalta. Luiz observa que este cenário, entretanto, está cada vez mais ameaçado pelas incertezas em relação à política fiscal do novo governo que pode neutralizar o trabalho da política monetária.

Importante destacar que outra variável identificada para os próximos anos está relacionado aos padrões globais de ESG que cada vez mais têm se mostrado prioritários para investidores internacionais. Nossa matriz energética limpa representa um importante diferencial competitivo e pode ser um catalisador para aumentar nossa participação nas carteiras globais. Em 2023, por exemplo, devemos ter forte aumento na capacidade de geração solar, que aliado ao bom regime de chuvas deve promover significativa redução no custo da energia elétrica.

“Finalmente, vemos que os conflitos geopolíticos do Ocidente com a Rússia e a China, devem incentivar uma realocação de investimentos ocidentais para países mais próximos física e ideologicamente, potencialmente favorecendo a América Latina. Este ano, por exemplo, vimos o agronegócio no Brasil ser diretamente afetado pela disrupção da produção de grãos na Ucrânia e o Mexico, mesmo com um governo de esquerda, se tornando novamente uma alternativa cada vez mais interessante para terceirização da produção industrial na China’, finaliza o associado do LIDE Pernambuco.

Outra opinião que pode nos ajudar a tentar entender um pouco do que vem por aí no cenário global, nacional e local foi abordado pelo economista, professor da Universidade Federal Rural de Pernambuco e integrante do LIDE Finanças, Luiz Maia. Segundo Maia, o ponto de partida da economia para 2023 não é bom devido a alta taxa de inflação e de desemprego. Além disso, existe a possibilidade que o Banco Central aumente ainda mais os juros e isso pode impactar o acesso de recursos por parte das empresas, seja para capital de giro ou investimento, o acaba por gerar uma desaceleração da economia.

Luiz Maia ainda faz uma projeção no âmbito mundial e o cenário para Pernambuco. “As notícias aqui também não são positivas, com os Estados Unidos não alcançado a meta de 2% nas suas taxas de juros. Na Europa, a situação de recessão já é algo palpável, principalmente devido à guerra na Ucrânia e por fim, na China, com o aumento de contaminação das pessoas com a COVID 19 é possível que tenhamos impactos na cadeia produtiva e isso pode atingir em setores da economia mundial”, afirma o economista.

“Aqui podemos dividir em dois pontos. Um é que os estados nordestinos com os programas sociais do governo devem registrar aumento na economia local com a entrada dos recursos públicos. Já em Pernambuco a tendência é que o processo de transição se estenda mais por causa da entrada de um novo grupo político após muitos anos de uma outra gestão. Para evitar que a nossa economia sofra mais, o Estado tem que criar boas estratégias de crescimento”, finaliza Luiz Maia.