Estímulo da leitura na primeira infância auxilia no desenvolvimento da linguagem
Quase todo mundo já viu algum vídeo da bebê Alice, de dois anos, que viralizou na internet por falar palavras difíceis com perfeição e por seu amor cativante pelos livros e histórias. O que também chama a atenção nos vídeos que mostram o dia a dia da pequena é o modo como seus pais, brasileiros radicados em Londres, estimulam o contato dela com a leitura, mesmo ainda sendo tão nova. Segundo Luciana Hodges, doutora em psicologia cognitiva e supervisora pedagógica da Educação Infantil do Colégio CBV, esse estímulo feito de forma precoce pode ter contribuído bastante para o desenvolvimento mais acelerado do vocabulário de Alice e por seu interesse em falar.
“É perceptível que a família dela gosta de ler, sente prazer na atividade de leitura, se rodeia de livros, e a Alice vivencia isso e aprende pelo exemplo. Ao mesmo tempo, os pais dela, por lerem, têm e usam um vocabulário mais amplo, acostumando a Alice desde bebê com novas palavras”, explica Luciana. Segundo a supervisora, outro ponto positivo que pode ser destacado é a interação afetiva que os pais e Alice têm, mediada pelos livros.
“Não basta ler pra criança como uma obrigação, porque os psicólogos e educadores recomendam. O que torna isso interessante e significativo é quando é feito com prazer, com carinho, com interação afetiva, quer seja junto com a família, mas também nas vivências na escola. Esses momentos vão ficar gravados nas memórias da criança e ela vai desenvolver uma relação gostosa com a leitura, com a linguagem, com a aprendizagem. Tudo isso vai ser muito positivo pra ela no futuro como estudante, mas principalmente como indivíduo”, completa.
De acordo com a doutora em psicologia cognitiva, algumas estratégias podem ajudar os pais neste primeiro contato das crianças com o universo dos livros e da leitura. “Falando de crianças bem pequenas como a Alice, o processo pode ser iniciado incentivando o bebê a olhar para os livros, manuseá-los, gostar que leiam pra ele. Com o tempo, pode-se ensinar a criança a se comportar como leitor, ao segurar um livro e fingir lê-lo, por exemplo, fazê-la entender onde estão as palavras e que elas são diferentes dos desenhos”, explica.
Segundo Luciana, pode-se, ainda, aproveitar as oportunidades do dia a dia para mostrar os usos sociais e comunicativos da linguagem escrita para a criança, conforme ela for crescendo, através de bilhetes na geladeira, receitas culinárias, convites de aniversário, listas de compras, cartas ao Papai Noel, por exemplo. “Assim, ela vai aprendendo que a leitura representa não os objetos, e sim os sons da fala, percebendo também os múltiplos usos da escrita para a comunicação,” finaliza.